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Em criança tinha um livro que contava a história de dois esquilos que, durante o outono, armazenavam bolotas para passarem um inverno sossegado e longe do frio, dentro do seu tronco. O inverno era ilustrado por uma imagem dos esquilos quentinhos, dentro do tronco e junto a uma lareira, a comer as suas bolotas, e recordar essa imagem ainda hoje me traz conforto.
Lembro-me tantas vezes desta história que não pode ser normal, e, de certa forma, fiz disso modo de vida. Tenho sempre coisas "de reserva" em casa. Água, produtos de higiene, alimentos. Desperdiço imenso dinheiro e deito fora coisas com validade expirada à conta desta minha mania de comprar tudo a mais. No verão compro roupa de inverno, no inverno compro roupa de verão. Coisas de que muitas vezes não preciso ou que nem irei usar. Tenho um par de sapatos de cada cor, apesar de alguns nunca terem sido usados, porque pode dar jeito. Tenho dois armários cheios de casacos, de todas as cores e feitios, mas depois uso sempre os mesmos dois ou três. Possuo uma coleção invejável de lenços, cachecois, luvas e chapéus, apesar de raramente usar. O princípio é sempre o mesmo: ter tudo aquilo de que irei precisar, à mão, de reserva para um dia de chuva. Vocês percebem. Não?
Isto leva-me à minha mais recente obsessão: armazenar leite materno. Mas Mia, falta-te leite? Vais sair e deixar o miúdo com alguém? Vais voltar ao trabalho? Estás a antecipar morrer? Não, não, não, e credo, não!
Sou parva. Quero armazenar leite porque sim. Porque pode dar jeito. Porque pode fazer falta. Porque... sei lá!
Sucede que não tenho assim tanto leite. As minhas skills de vaca leiteira deixam muito a desejar, sou uma vaquinha fraquinha fraquinha, e apesar de produzir o necessário para este texuguinho estar a crescer a olhos vistos, não consigo encher sequer um biberão por dia se tirar com a máquina. Algo que me preocupa e francamente chateia. Apesar de não precisar. Apesar de ser só uma mania parva. Apesar de nem sequer conseguir vislumbrar uma situação próxima para a qual necessitaria de leite extra. "Tens é demasiado espaço no congelador", estarão vocês a pensar. É provável que sim. Mas antes enchê-lo de leite do que ocupá-lo com gelados...
Aquele familiar que antigamente nem ligava se passávamos muito ou pouco tempo lá em casa, e agora fica ofendido porque, depois de já lá termos feito uma refeição durante a semana, no domingo passamos por lá apenas para uma visita "rápida" de mais de uma hora. Sendo que lá fica a 40km da nossa casa. E o homem trabalhava no dia seguinte. E ainda não tínhamos parado desde essa manhã. E o puto estava meio adoentado. Mas sim, é um ultraje não lhe termos dedicado mais tempo, pois claro. Problema de fácil resolução: se as visitas rápidas ofendem, acabam-se as visitas, de todo.
Mergulhar um quadrado de chocolate de leite no frasco da manteiga de amendoim.
Segurem-me.
Aniversário de família, mais de 20 pessoas na sala, bebé a dormir há horas e todos em pulgas para que ele acordasse. Alguma vez viram pessoas GRITAR os parabéns? Eu também não, até esse dia. Não se pouparam esforços para acordar "sem querer" esta criança, e quase que aposto que, houvesse panelas por perto, e tinham andado a bater com elas.
Ele? Nem pestanejou.
Riqueza da sua mãe.
E eu acreditei, porque já sei como sou.
Tenho saudades de estar grávida. Tantas, que às vezes até dou por mim a acariciar a barriga e só depois me lembro que não há nada lá dentro.
Adoro o meu monstrinho, e quero aproveitá-lo ao máximo antes de pensar num eventual próximo filho. E sei que, por causa da cesariana, isso nem sequer é uma opção nos próximos dois anos, e mesmo assim dois anos de diferença entre filhos parece-me pouco até. Mas, caramba, tenho tanta vontade de estar novamente grávida que nem vos conto.
Pessoa com o puto ao colo sai-se com esta pérola:
- tens que o libertar da fralda.
say whaaaat???
E continua:
- tens que o libertar da fralda. Alargá-la para ele estar mais à vontade.
*Mia revira interiormente os olhos, sorri, e:*
- não posso fazer isso, senão em menos de nada ele tem cocó até ao pescoço.
- e pronto, deixa-o fazer. Melhor assim.
Melhor. Assim.
Porque toda a gente sabe que dormir numa caminha de fezes é do melhor para a pele do bebé.
Sorrir e acenar, Mia. Sorrir e acenar.
No tempo deles, era-se pai nos vintes. Depois de a criança estar cá fora, seguiam-se cegamente as instruções dos pais. Em alguns casos - na nossa família aconteceu com ambos - mudavam-se para casa dos pais, para que estes ajudassem com a criança. Eram os avós quem ditava as regras e os pais obedeciam. E hoje, quando os nossos pais se tornam avós, têm extrema dificuldade em entender que as coisas mudaram. Não somos jovens de vinte anos. Já estamos nos trinta, com tudo aquilo que isso acarreta. Temos vidas bem estruturadas, não estamos a ter filhos em cima do joelho. Lemos muito, temos acesso a muita informação e não só sabemos o que estamos a fazer (pelo menos em teoria), como temos noção de que o que se fazia há 30 anos atrás está ultrapassado e algumas coisas são hoje vistas como prejudiciais. Não precisamos de ir para casa dos nossos pais, nem que nos digam o que fazer, muito menos que queiram ditar leis na nossa vida. Não precisamos que nos passem atestados de incompetência ou que critiquem as nossas "modernices". Precisamos que sejam avós carinhosos e presentes, sem sufocar nem a criança nem os pais. Se fizerem isso, já está bom. Precisamos que oiçam e respeitem as nossas regras e conselhos. Estamos a dispostos a ouvir também os deles, claro que sim, que prepotência seria não o fazer. Mas eles estão dispostos a ouvir os nossos? É muito cansativo estar constantemente a lutar contra velhos do Restelo, sentir que não somos levados a sério. Há tempos disseram-me: "és mesmo uma mãe galinha". O tom era crítico, mas sinceramente não estou a ver onde é que isso está errado. Que seja uma mãe galinha, sou a mãe que quero ser.
Cenário: bebé com dias de vida, nós em casa há literalmente três dias. Eu inundada de hormonas e baby blues, ambos com forte privação de sono, exaustos, visitas non-stop num entra e sai frenético. Não tínhamos passado nenhum dia ainda sozinhos os três, uma loucura.
Pessoa liga e comunica que vem passar três dias cá a casa: domingo, segunda e terça. Por circunstâncias várias, o homem não tem coragem de dizer que não e avisa-me do sucedido. Se eu estava mal, pior fiquei. A perspectiva de ter o meu lar invadido por uma visita que não vai embora por três dias aterrorizou-me. Só queria paz e sossego, fechar todas as portas e janelas e fazer de conta que não está ninguém em casa. No dia seguinte, consulta de rotina, e eu com as tensões nos píncaros. Passa mais um dia, e a coisa repete-se. Análises de urgência, horas no hospital, para se constatar o que eu já sabia: tudo bem comigo excepto os níveis de stress absurdamente elevados.
O homem panica, ganha tomates e liga a dizer que não dá. Que não pode ser, que não estamos em condições de ter hóspedes, que eu preciso de paz. Situação chata para todos, um ambiente de merda, mas passa. Combinamos jantar na segunda cá em casa, para compensar.
Chega domingo, e pessoa vem visitar. Tudo muito bem, terminada a visita, vai o homem levá-la à porta e sai-se com esta: pronto, então amanhã venho jantar e fico cá a dormir para terça. Tunfas. Assim, enrabado a frio. E como se diz que não neste momento? Não se diz. Leva-se com um hóspede em casa. Aguenta-se dois dias com uma visita que não sai e ainda por cima vem de trombas porque sabe que não é bem vinda. Aguenta-se dois dias a fazer quase tudo sozinha, porque alguém tem que "fazer sala" e entreter a visita. Tenta-se não fritar da puta da cabeça porque alguém, do alto do seu egoísmo profundo, achou que só a sua vontade é que importava e uma família acabada de se formar não precisa de paz e sossego. Nadinha.
Olá, eu sou a Mia, e sou uma chocólatra anónima. Por favor alguém me pare.
No centro de saúde, a dar a primeira vacina, acompanhados de familiar. Não aguentei ver o menino a ser picado e saí da sala, mas assim que o ouvi berrar não consegui manter-me afastada e entrei de rompante. Uma pessoa com dois dedos de testa abriria alas para a mãe chegar à criança, certo? Esta não só não o fez como se enfiou à minha frente, pegando no meu filho, e impedindo-me de lhe chegar. Sabeis lá vós o milagre que é eu ainda não ter perdido a compostura. Sabeis lá.
Às vezes tenho dificuldade em entender onde fica a linha que separa o que é aceitável escrever num blogue, daquilo que é demasiada informação, que não é prudente ou bonito partilhar. Se, por um lado, este blog funciona como uma espécie de diário para mim, um sítio onde posso vomitar ideias e teorias escondida atrás do meu anonimato, por outro tenho muitas vezes receio de estar a falar mais do que devia, de me expor demasiado, ou simplesmente - admito - que escreva coisas que não são bonitas de ler. A título de exemplo: tenho há mais de um mês um texto nos rascunhos cuja escrita me ajudou bastante porque me permitiu arrumar ideias e perceber melhor a situação que estava a viver. Gostava de o ter publicado porque teria apreciado ler outras opiniões e quem sabe a perspectiva de quem está de fora. Cheguei, inclusivamente, a tê-lo agendado, mas entretanto cancelei a sua publicação. O texto era sobre uma situação familiar, e comecei a pensar no que sentiria a pessoa visada se o lesse, e, ainda que isso tivesse uma probabilidade infima de acontecer, acabei por optar por não o publicar. Não sei se fiz bem ou mal, mas decidi assim. E vocês? Escrevem sem filtro ou pesam o impacto das vossas palavras? Onde traçam o limite?
Mas.. mas... ele tem dois meses! DOIS. Dois mesinhos pequeninos. Que loucura...??
E depois há aquela pessoa de idade que insiste que quer pegar no miúdo, mas não admite conselhos de ninguém. Não quer saber das nossas recomendações, não segue qualquer tipo de indicação, responde a tudo com "eu sei" ou "eu já peguei em muitos", enquanto ignora tranquilamente o que lhe pedimos. Pouco me importa se pegou em três milhões de crianças, nenhuma delas era minha, e no meu, garanto, não pega equilibrando-o nas palmas das mãos e sem suportar a cabeça. O que acontece a essas pessoas? Levam um Não redondo, quando dizem: passe-me o menino. Assim, a frio, sem sequer me dar ao trabalho de inventar desculpas, porque a paciência tem limites e a minha já foi esticada ao extremo.
Este blog vive de posts agendados, não é segredo. Desde que fui mãe, o tempo não abunda, e quando me sento em frente ao pc as palavras escorrem-me por entre os dedos e dou por mim a agendar semanas de posts. Há, no entanto, uma questão que me consome: e se me acontece alguma coisa entretanto? E se a vida muda, e se as coisas correm mal, e se - Deus me livre - morro? O blog continua vivo, alheio ao drama, a retratar episódios de quando a vida era boa? Às vezes deixo-me atormentar por coisas parvas - esta é uma delas. Alguém igualmente dramático desse lado?
O homem regressa hoje ao trabalho, depois de na última semana ter gozado os dias de licença parental inicial que lhe restavam. Não é novo para mim estar sozinha em casa com o monstrinho: o pai já tinha regressado ao trabalho desde o início de Setembro e já estávamos habituados. Mas esta última semana foi maravilhosa. Não fizemos "nada de especial": passamos tempo em família. Com todo o resto do mundo a trabalhar, tiramos estes dias só para nós. Fomos às compras, almoçamos fora, jantamos fora, ficamos em casa. Passamos manhãs a preguiçar na cama e noites abraçadinhos no sofá a ver novela e séries. Dividimos as birras, os cocós e as arrumações. Visitamos família e recebemos amigos em casa. Cozinhamos juntos, conversamos, fizemos palhaçadas. Cantamos para o monstrinho, pegamos um com o outro e rimos muito. Ele desenvolveu uma adoração pelo pai, e o ar fascinado com que olha para ele é qualquer coisa de delicioso. Vivemos (quase) sem horários. Já aqui disse antes: preciso de ficar rica. Não tenho sonhos megalómanos nem quero viver uma vida louca. Queria "só" ter todo o tempo do mundo para viver a minha família.
Chegamos a um aniversário de família, após a sessão fotográfica. Monstrinho tinha pouco mais de um mês, estava cansado e irrequieto de não ter dormido a tarde toda, e claramente a precisar de descansar. Mal entramos, pessoa abeira-se da alcofa e afasta a manta para pegar nele. O pai da criança diz-lhe que não pegue, que estamos a tentar que ele durma. Pessoa fica chateada mas afasta-se. Passado uns dez minutos, vem pedir-me se pode pegar no menino e volto a repetir o mesmo, salientando que ele tem mesmo que descansar porque senão vai entrar depois naquele estado de sobre-estimulação em que nem está bem acordado, nem consegue dormir. Tudo bem. Afasto-me para atender uma chamada deixando o menino acompanhado da dita pessoa, e, minutos depois, olho e vejo a alcofa a um canto, debaixo de uma janela. Tu queres ver que me deixaram o puto sozinho? Aproximo-me, não havia criança. Olho para o lado, está ao colo da dita pessoa, e já rodeado de gente, todos a falar alto e a mexer-lhe. Respiro fundo e vou procurar o homem - afinal de contas é a família dele - para que ponha ordem na pocilga, e eis que ele me diz: ela pediu se podia pegar e eu disse que sim. A ver se nos entendemos. Depois de ter levado duas negas, e de eu - mãe da criança - ter dito explicitamente que não menos de 3 minutos antes, ela vai nas minhas costas e, numa total atitude de desafio pela minha autoridade, pede ao pai?!?! Nunca aquela criança saiu tão rápido de um colo e de volta à alcofa.
Já vão no quarto dia seguido a limpar bermas. Está ali uma coisa bonita de se ver, trabalham com afinco, o dia todo, e já quase não se vêem ervas em quase lado nenhum. Em quase lado nenhum, excepto nos escoamentos, esses, claro, estão agora cheios de lixo. É bom, acho que sim, agora que o verão parece (finalmente) ter terminado e começaram as chuvas, parece-me uma excelente altura para limpar mato e entupir saídas de água. Quanto tempo até começar agora o drama das inundações?
O meu gato, não.
Resultado? Eram cinco da manhã e estávamos todos acordados (e mal humorados) porque o sr. gato resolveu fazer uma birra monumental de quem quer atenção.
Haja paciência.
Aquelas pessoas que não vão acordar o menino, ora essa, claro que não, pois se a mãe pediu para terem cuidado vão lá agora acordar o puto, nada disso. Vão só sentar-se todos à volta do ovo e falar como se estivessem a tentar ser ouvidos na China, abana-lo, fazer festas, puxar pelo pé, tirar a manta para ver como está grande e afins. Depois se o miúdo acorda é lá com ele, quem o manda ter sono leve?