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Era sexta feira à noite, e eu estava sentada ao balcão da cozinha, com um copo de vinho, enquanto conversava online com ela. Cortávamos na casaca de uma terceira pessoa, há lá melhor, e de repente apercebi-me:

- quem ler esta conversa pensa que não temos o que fazer, nem filhos para criar.

ao que ela responde:

- o pai está a adormecê-lo.

- aqui também. Escolhemos bons pais.

 

E escolhemos.

 

Ah e tal, mas o pai tem tanta obrigação como a mãe, beca beca beca. Isso é tudo muito bonito e concordo muito. Mas tendo os mesmos deveres, quantos o fazem? Quantos não se limitam a empurrar as tarefas para a mãe?

 

Em tempos uma amiga contou-me que, numa festa, uma outra amiga ficou chocada porque a filha tinha cocó na fralda e o pai foi mudá-la. A rapariga ficou chocada por ele saber como o fazer, imagine-se!

 

Na semana passada, numa festa de família, o meu filho começou a choramingar. Eu ainda estava a almoçar, por isso o pai pegou nele ao colo e foi adormecê-lo. Naturalmente, não foi preciso pedir, é necessário fazer alguma coisa e o que está mais liberto faz. De imediato uma tia veio perguntar-me se ele era mesmo assim ou se estava a fazer aquilo apenas para o show off.

 

Tens muita sorte.

 

O tanas. Escolhi-o.

Escolhi o homem que olha para o nosso filho como nunca o vi olhar para ninguém. Escolhi o homem que muda fraldas, dá banhos, canta, faz palhaçadas. O homem que chega a casa, depois de um dia de trabalho, e dá a sopa ao menino para me poupar as costas. Que o adormece praticamente todas as noites. O homem que me atura as neuras, que assume quando erra, que conversa comigo, que diz que me ama todos os dias sem excepção.

 

Não foi sorte, escolhi-o. E escolhi tão bem.

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Ao primeiro raio de sol, o homem sai-me de casa de mangueira em punho, tira os resguardos da mobília de jardim e limpa tudo para "começarmos a tomar o pequeno almoço lá fora". No dia seguinte estava a chover.

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publicado às 15:21

Não acho. Mesmo. Nem por sombras.

 

Mentiria se dissesse que nunca tive dúvidas quanto a isso. Houve um momento em que questionei a competência dele enquanto pai.

 

 

{O monstrinho tinha poucas semanas de vida e estava a fazer uma pequena birra e constantemente a cuspir a chupeta para o chão, e ele repreendeu-o, zangado. E eu mais zangada fiquei. Concedo que o pai estivesse cansado, exausto, impaciente, mas não se repreende um recém nascido que não tem qualquer controle sobre as suas acções. Aquilo perturbou-me de tal forma que ficou a marinar na minha cabeça durante dias, até que acabei por me sentar com ele e por as coisas em pratos limpos: assim não. Não tolero que descarreguem frustrações no meu filho, muito menos o pai dele. É suposto sermos o seu porto de abrigo, e farei todos os esforços para que isso aconteça, nem que isso implique abrir mão da minha relação - dose extra de drama para provar um ponto. Ele reconheceu o erro, pediu desculpa, prometeu não repetir, e desde então tem sido exemplar.}

 

 

Mas eu queixo-me, claro.

 

Queixo-me de ele se apoiar demasiado em mim, de contar comigo para tudo. Sei que ele não conseguiria responder a perguntas básicas como "qual é o nome da vitamina que ele toma?" ou "quando foi a ultima vez que trocamos os lençóis do berço?" ou ainda "onde estão os gorros?". Sei que isso se deve ao facto de não ser preciso ele saber essas coisas, porque a vitamina é dada de manhã e eu assumi a responsabilidade de a dar para evitar sobredosagem, porque os lençóis são trocados à quarta-feira de manhã, e porque toda a organização do quarto dele é minha responsabilidade - para além de ter mais tempo, faço gosto nisso.

 

Sei que há um motivo lógico para eu saber essas coisas e ele não. Sei que ele não precisa de as saber, porque estou cá eu. Mas assusta-me pensar: e se eu falhar?

 

Ele contrapõe: se tu falhares eu arranjo-me. Sei o essencial, e o resto aprenderia se fosse necessário.

 

Tem lógica, mas às vezes ainda me incomoda, e queixo-me, claro, não sei se já disse. Sou pessoa de se queixar muito de barriga cheia.

 

Nunca tinha pensado no impacto que as minhas palavras teriam nele.

O meu homem é uma pessoa muito pouco dada a queixas e dramatismos. E isso faz com que, por vezes, seja muito fácil esquecer que ali dentro daquela carapaça também há um coração. Nunca me passou pela ideia que ele assumisse as minhas queixas como um atestado de incompetência. E partiu-me o coração que ele pudesse pensar que era um mau pai, por minha causa.

 

Basta ver a reacção que o monstrinho tem quando ele chega a casa todos os dias, para perceber que há ali uma paixão assolapada pelo pai. Derreto-me a ver a forma como ele brinca com o filho, como lhe inventa canções, como faz aviãozinho. Como, sendo ele uma pessoa pouco dada a demonstrações de afecto, lhe mostra diariamente que o adora. Aquece-me a alma ver o cuidado com que o embala, o veste e lhe troca a fralda - mesmo que demore três vezes mais tempo do que eu.

 

O meu homem é o melhor pai que o meu filho poderia ter. E entristece-me a ideia de ele poder pensar de outra forma.

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O homem regressa hoje ao trabalho, depois de na última semana ter gozado os dias de licença parental inicial que lhe restavam. Não é novo para mim estar sozinha em casa com o monstrinho: o pai já tinha regressado ao trabalho desde o início de Setembro e já estávamos habituados. Mas esta última semana foi maravilhosa. Não fizemos "nada de especial": passamos tempo em família. Com todo o resto do mundo a trabalhar, tiramos estes dias só para nós. Fomos às compras, almoçamos fora, jantamos fora, ficamos em casa. Passamos manhãs a preguiçar na cama e noites abraçadinhos no sofá a ver novela e séries. Dividimos as birras, os cocós e as arrumações. Visitamos família e recebemos amigos em casa. Cozinhamos juntos, conversamos, fizemos palhaçadas. Cantamos para o monstrinho, pegamos um com o outro e rimos muito. Ele desenvolveu uma adoração pelo pai, e o ar fascinado com que olha para ele é qualquer coisa de delicioso. Vivemos (quase) sem horários. Já aqui disse antes: preciso de ficar rica. Não tenho sonhos megalómanos nem quero viver uma vida louca. Queria "" ter todo o tempo do mundo para viver a minha família.

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publicado às 13:57

E depois houve aquela noite em que eu lhe disse: "olha por ele enquanto eu vou aquecer o leite", e passado uns minutos eu na cozinha ouvia o monstrinho a chorar - ainda fica a uma distância considerável dos quartos. E chorava, chorava, sem parar, e eu resolvi ir ver o que se passava porque não é normal, habitualmente damos-lhe a chupeta e é remédio santo. Dizia eu, fui ao quarto ver o motivo para tanta choradeira, e dou com este belo cenário: monstrinho no berço a chorar desalmado, e o pai ao lado, a dormir profundamente.

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Esta noite

por Mia, em 09.10.17

Enquanto eu amamento o bebé, o homem dorme ao meu lado. De repente: aquele som já tão conhecido, seguido de uma humidade que percorre a mão que apoia o rabo do bebé. Temos cocó por todo o lado. Solto um "foda-se" baixinho e ele acorda. "O que foi?" "Ele fez cocó, borrou-se a todo." "Foda-se." Vira-se para o lado e dorme. De manhã, nem tem ideia de que esta conversa aconteceu.

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publicado às 07:34

Ele...

por Mia, em 28.06.17

...atura-me quando choro sem motivo ou estou mal humorada e odeio o mundo.

 

...levanta-se para me ir buscar água/comida/qualquer coisa, mesmo que tenha acabado de se sentar.

 

...pergunta-me sempre se eu quero ajuda para me levantar, quando me vê a espernear feita tartaruga. E ajuda-me, mesmo que eu às vezes sinta que uma grua não era suficiente.

 

...trocou de emprego para poder deixar de viajar e estar em casa connosco, todas as noites, mesmo que isso tenha sido uma facada na sua carreira.

 

...chega a casa e tem paciência para se sentar comigo a conversar, mesmo que eu não tenha nada de especial para dizer e só queira companhia porque passei o dia sozinha, e os meus assuntos sejam tão profundos como "hoje lavei duas máquinas de roupa".

 

...faz o jantar muitas vezes, apesar de ter um dia de trabalho no lombo, compreendendo que eu passei o dia em casa deitada mas tenho dores/estou enjoada/estou fraca.

 

...vem sempre que o chamo para matar um bicho.

 

...continua a olhar para mim com os mesmos olhos e a dizer-me que sou linda, mesmo que eu esteja gorda, corada e despenteada.

 

 

Ele ainda não se apercebeu bem do que vem aí, mas eu tenho a certeza de que ele vai ser tão excelente como pai, como é marido.

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Hormonas

por Mia, em 19.05.17

Estamos os dois a ver televisão e, do nada, começo a chorar porque me lembrei que um dia ele vai morrer.

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Dez anos.

Não comemoramos aniversários de namoro, porque a nossa história tem mais loopings do que a mais selvagem das montanhas russas. Comemoramos o dia em que demos o nosso primeiro beijo, naquele final de Abril de 2007, já nos conhecíamos há três anos.

Conhecemo-nos numa altura conturbada: eu tinha uma pessoa, e ele era um mimado. Eu estava deprimida, era destrutiva e submissa. Ele era parvo, infantil, e sem noção do que a vida custa. Andamos muitos anos às turras, e nenhum de nós sabe dizer quantas vezes nos juntamos e separamos.

Não somos perfeitos nem temos a história mais perfeita. Mas é a nossa história, e todos os altos e baixos trouxeram-nos ao ponto em que estamos hoje.

A vida levou-nos por caminhos diferentes, e quando nos reencontramos conseguimos, de alguma forma, encontrar o nosso equilíbrio. Nenhum de nós é como era há 10 anos, ainda que sendo. E eu, que muitas vezes não acreditei nesta relação, há mais de um punhado de anos que não tenho qualquer dúvida de que a vida é melhor com ele.

A vida que construímos juntos, com todas as suas reviravoltas, bons e maus momentos, não poderia ser a mais perfeita. E se hoje acordo todos os dias feliz e encaro com optimismo o dia que começa e o que o futuro nos reserva, é, em boa parte, culpa dele.

A nós, meu amor. Que venham muitos mais.

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Estou deitada na chaise longue. Viro para um lado. Viro para o outro. Tento dar balanço para me levantar e caio, novamente deitada. Rodo o corpo até ficar atravessada. Paro, já vermelha e ofegante, para pensar como vou fazer a proeza de me levantar, e cruzo o olhar com ele. O desgraçado está sentado no sofá à frente a rir-se até às lágrimas e pergunta: "então, como é que isso te está a correr?". Estupor.

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"Respirar alto" tornou-se o meu novo hábito nocturno.

Há manhãs em que ele conta que "respirei" como um porco, outras mais extremas em que aparentemente "respiro" como um rinoceronte.

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Aquela altura em que estás deitada e, qual tartaruga, não consegues dar a volta, e gritas:

"Traz a grua que preciso de me levantar!"

E ele vem, de sorriso nos lábios e braços estendidos em teu auxílio... enquanto faz "piiii... piii.... piiii..", como se fosse um camião de grande porte....

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Passamos o dia a desinfestar a casa. Bichos desparasitados e trancados na varanda, tudo o que podia ir à máquina enfiado em sacos pretos para ser lavado a 40º, casa limpa, spray anti-pulga em todos os cantos, uma canseira. Não reclamou uma vez. Não se queixou do facto de eu ter trazido os animais para casa, sacanas que já o conquistaram e ele nem gostava de bichezas. Não insinuou que provavelmente foi esta minha mania de mexer em tudo o que é vadio, a causa da infestação. Fez o trabalho mais sujo, o mais pesado, e nem pestanejou.

Ao fim do dia fui ao pé dele e abracei-o, enquanto pensava na sorte que tenho por ele existir. Nesse exacto momento, ele diz-me ao ouvido: "ao menos temo-nos um ao outro".

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Suspeito que o meu homem me espanca durante a noite. É a única explicação plausível que encontro para andar constantemente com nódoas negras e não fazer ideia de como foram lá parar.

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Quero tanto, mas tanto tanto tanto, uma coisinha destas:

-Balan-o-de-suspens-o-do-Rattan-do-jardim-cadeira-

 Pena serem caras pra burro.

 

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À falta destes, que acho que seriam a nossa cara...

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 ... consegui convencer o homem a comprar estes:

 

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 Estou feliz.

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Indecente, mas mesmo indecente, foi o homem ter-me deixado ir à manicure e pintar as unhas de rosa néon (don't ask, é a puta da silly season) no dia em que me ia pedir em casamento. Um heads up teria sido de valor.

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