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Quando eu andava no liceu, havia um rapaz na minha turma que era parvo, muito parvo, um verdadeiro cepo. Sucede que tinha a puta da mania, falava muito e achava-se o maior da aldeia dele. Já eu, sempre fui mais para o tímida, calada, quieta no meu canto, a "miúda do olhar triste" como alguns chegaram a dizer. Levava a vida sem grandes espalhafatos, ninguém dava por mim, ninguém reparava que eu tirava as melhores notas da turma ou que estava atenta ao que se passava à minha volta, e muitos tomavam-me por lorpa. O rapazito incluído. Muitas vezes em conversas ele vinha para o pé de mim e explicava-me as coisas, assim como se eu fosse um bocadinho limitada. Falava devagarinho, como se estivesse a tentar ensinar algo a uma pessoa mesmo muito burra. E eu fazia de conta que sim, que estava a aprender imenso com ele. Às vezes até me entusiasmava e soltava um ou outro elogio à forma como ele tão sabiamente me instruíra. Outras vezes exagerava um bocadinho nas minhas "dúvidas" e levava a coisa a um nível tão ridículo que toda a gente à minha volta acabava por dar conta do que eu estava a fazer menos ele, ele nunca percebia, tão grande era aquele ego e aquela vontade de mostrar quão bom era.
Nunca perdi tempo a contar-lhe que quando me fazia de burra ao pé dele era para minha diversão, porque achava um piadão tremendo a vê-lo a tomar ares de superior enquanto me explicava, geralmente de forma errada, alguma coisa básica, e se sentia o rei da macacada.
Não tinha nem vinte anos nessa altura, mas ainda hoje, já quase nos trinta, continuo a achar que quando uma pessoa que claramente não o é, se tenta mostrar superior, mais vale dar-lhe corda e retirar daí umas boas gargalhadas.