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Tudo começou quando descolei o meu aparelho de contenção. Para quem não sabe, trata-se de um pequeno arame que é colocado por detrás dos dentes de baixo, para os manter no sítio após tratamento ortodôntico. Ora, dizia eu, descolei a contenção e andava com um ferro solto na boca há coisa de três semanas. Desagradável, mas não tanto que me incentivasse a ir ao dentista - tinha consulta em Janeiro e estava a ver se aguentava a coisa até lá.

 

Passo a explicar: ir ao dentista agora não é propriamente simples porque tenho que levar o miúdo comigo. Como iria aproveitar a consulta para fazer a limpeza semestral, poderia demorar algum tempo, e não é a coisa mais confortável ter um bebé a meu cargo nesse momento.

 

Entretanto, e porque as minhas gengivas já imploravam por piedade, acabei por agendar a consulta para um sábado - assim os meus homens poderiam ir comigo. Sábado chegou, e acordamos todos às 7h30 para estar na consulta às 9h. Amamentei o miúdo e enquanto o pai o punha a arrotar, comecei a abrir as persianas todas. Lá fora um dia de inverno horrível: chuva, frio, nevoeiro. Voltei para o quarto e nem queria acreditar nas palavras que me saíram da boca: eu vou sozinha à consulta, e vocês ficam aqui em casa.

 

Choque.

 

Nestes quatro meses, nunca tinha saído sem o meu filho. É claro que ele fica ao cuidado do pai quando estamos em casa e eu vou fazer qualquer coisa para outra divisão. Mas separados por mais do que alguns metros? Nunca tinha acontecido. O máximo foi aquela vez em que eu tive que ir à Primark e o deixei com o pai na Fnac, mais do que isso jamais. Mas no sábado tinha que ser. O meu medo, a ansiedade que sentia por me separar dele, estavam a levar a melhor sobre a racionalidade. Que parvoíce teria sido tirar a criança de casa, num sábado de manhã tão cedo, com frio e chuva, e ainda por cima para o levar para ambiente hospitalar, sem necessidade nenhuma? Seria egoísmo, estaria a fazê-lo por mim, e por isso fui sozinha.

 

Não vou mentir, custou, mas se calhar não tanto como pensei que custaria. No espaço de 2h em que estive fora consegui enviar apenas duas sms a perguntar se estava tudo bem, e no fim da consulta ainda aproveitei para dar um saltinho às compras. Não sei se se nota, mas estou bastante orgulhosa de mim própria. Para alguns parecerá simples, sair e deixar o filho com o pai, grande coisa. Para mim foi um grande feito. Deixar aquilo que tenho de mais precioso com outra pessoa, ainda que seja o pai dele, e ainda que confie totalmente nos seus cuidados, exigiu muita força mental da minha parte. E acho que o facto de ter colocado o bem estar dele à frente dos meus medos, fez de mim uma melhor mãe. Sinto que dei um primeiro passo muito importante, e um dia destes, quem sabe, até conseguirei voltar a ser uma pessoa e não "apenas" uma mãe.

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16 comentários

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De Marta Elle a 16.12.2017 às 16:16

Não tenho filhos mas compreendo.
Se tivesse não os conseguia deixar com uma pessoa estranha, por mais que me dissessem que era alguém de confiança.
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De Mia a 31.01.2018 às 10:53

Vai ser muito difícil para mim deixá-lo na creche. Aliás, mesmo com pessoas conhecidas, não sou capaz ainda. Fica com o pai, e é uma sorte.

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