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"Vais fazer OUTRA formação?! Mas tu nunca paras? Queres saber tudo é??"
Sim, é mais ou menos isso.
Aparentemente há uma escala para o quanto se gosta de alguma coisa:
Muito
Bué
Tótil
Sendo que muito é o mínimo e tótil é o máximo.
Como podem ver, durante as férias cultivo imenso a minha cultura geral.
... mas devo dizer-vos que ir ao ginásio em Agosto é do melhor que há. Não há filas, bisontes musculados, boazonas mete nojo... Há pessoas branquelas e gorduchas, máquinas vazias e aulas desertas. Fosse assim o ano todo e juro que a minha motivação triplicava.
Quando eu andava no liceu, havia um rapaz na minha turma que era parvo, muito parvo, um verdadeiro cepo. Sucede que tinha a puta da mania, falava muito e achava-se o maior da aldeia dele. Já eu, sempre fui mais para o tímida, calada, quieta no meu canto, a "miúda do olhar triste" como alguns chegaram a dizer. Levava a vida sem grandes espalhafatos, ninguém dava por mim, ninguém reparava que eu tirava as melhores notas da turma ou que estava atenta ao que se passava à minha volta, e muitos tomavam-me por lorpa. O rapazito incluído. Muitas vezes em conversas ele vinha para o pé de mim e explicava-me as coisas, assim como se eu fosse um bocadinho limitada. Falava devagarinho, como se estivesse a tentar ensinar algo a uma pessoa mesmo muito burra. E eu fazia de conta que sim, que estava a aprender imenso com ele. Às vezes até me entusiasmava e soltava um ou outro elogio à forma como ele tão sabiamente me instruíra. Outras vezes exagerava um bocadinho nas minhas "dúvidas" e levava a coisa a um nível tão ridículo que toda a gente à minha volta acabava por dar conta do que eu estava a fazer menos ele, ele nunca percebia, tão grande era aquele ego e aquela vontade de mostrar quão bom era.
Nunca perdi tempo a contar-lhe que quando me fazia de burra ao pé dele era para minha diversão, porque achava um piadão tremendo a vê-lo a tomar ares de superior enquanto me explicava, geralmente de forma errada, alguma coisa básica, e se sentia o rei da macacada.
Não tinha nem vinte anos nessa altura, mas ainda hoje, já quase nos trinta, continuo a achar que quando uma pessoa que claramente não o é, se tenta mostrar superior, mais vale dar-lhe corda e retirar daí umas boas gargalhadas.
O meu homem dá erros ortográficos como se não houvesse amanhã.
E quando eu estou chateada diz para eu não fringir a testa que ainda fico com rugas.
E eu gosto dele.
Imaginem que têm que fazer uma viagem de avião de 10 horas. O vosso lugar fica numa fila de dois, e as opções para companhia são:
a) o senhor gordo, que ocupa o lugar dele e metade do vosso, e que assim que se senta desaperta as calças e tira os sapatos. E que cheira mal. E bebe vinho e arrota. E mencionei que está sempre encostado a vocês?
b) o rapazola engatatão que tenta meter conversa quando ainda nem sentou o rabo no lugar. Que durante todo o voo vai a ver filmes, ouvir musica ou jogar sem se dignar a colocar phones. Que coça os tomates, não para quieto na cadeira, e vos está constantemente a acordar com cotoveladas e encontrões. Que espreita para os vossos filmes/séries/livros/revistas.
c) a senhora com o bebé chorão que apenas conhece uma forma de o calar - sacar da mama e enfiar-lha na boca - o que faz com que acordem constantemente com uma mama encostada a vós. Ah, o bebé também sabe puxar cabelos.
Agora escolham.
Ia escrever aqui um textinho bonitinho sobre como às vezes essa cena do plágio nem é bem plágio, e como às vezes ouvimos ou vemos qualquer coisa e não processamos e depois vamos dizer/fazer/escrever a mesma coisa, e de como por vezes ouvimos, por exemplo, pessoas a utilizar as "nossas" expressões e ficamos todos ressabiados - copião, vou fazer queixa - mas na verdade nem é por mal, é que às vezes apanham-se coisas dos outros e nem se dá por ela, e pronto, dizia eu, que ia escrever sobre isso mas vai-se a ver já resumi tudo e não vale a pena estar aqui com floreados que vocês percebem, e pronto, kudos para vocês se conseguiram ler esta frase estupidamente grande de um só fôlego, eu já estou a ficar sem ar só de a escrever.
Há muito tempo atrás, corria o ano de dois mil e oito quando uma jovem criou o seu primeiro blog. Era uma espécie de diário online onde depositava todos os seus dramas e parvoíces. Estava a meio de uma depressão, com um esgotamento e com os problemas típicos de quem começa a deixar a adolescência para entrar na vida adulta, e a juntar à festa ainda tinha a mania de que sabia tudo e tinha sempre razão, imaginem o registo. Era um blog parvo-lamechas, a tal da jovem escrevia coisas muito estúpidas, e - pior! - tinha duas ou três dezenas de pessoas que por lá passavam religiosamente todos os dias e diziam ámen com toda a merda que ela debitava.
O seu primeiro blog era isso tudo, mas era muito mais: era genuíno. Era o único sitio onde podia ser ela mesma, sem reservas, sem medos, nua. E assim foi durante uns dois anos. Um dia, uma familiar próxima deu com ele e identificou-a imediatamente. Acto contínuo: copiou o link e enviou para todas as pessoas da sua família que tinham e-mail. E foi assim que, um belo dia, a tal jovem deprimida, fragilizada e com a vida a cair aos pedaços, viu ainda toda a sua intimidade exposta e ridicularizada, por uma pessoa que era suposto protegê-la.
Fim.