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- mamã, podes vir bincá comigo?
- a mamã hoje tem que trabalhar um bocadinho
- puque tens que tabaiá?
- para ganhar dinheiro, para depois podermos comprar brinquedos
- o [monstrinho] não qué compá binquedos
- não queres brinquedos?
- não, queio que a mamã vá bincá comigo
Cá por casa tudo igual, tudo diferente. Deixei o meu emprego e comecei o novo, e a adaptação, ainda que tenha custado nos primeiros dias, tem sido uma agradável surpresa. Trabalhar na minha cidade é tudo o que eu esperava que fosse: saio com 30 minutos de antecedência de casa, vou deixar o monstrinho à creche, visto-lhe a bata, dou beijinhos, "a mamã adora-te e volta logo", e vou-me embora, a pé. Chego ao trabalho 5 a 10 minutos antes da hora. Ao fim do dia, o percurso inverso, desço a rua e em 6 minutos estou a abraçar o meu pequeno. E não há nada que pague isso.
Para ele, a mudança foi um pouco mais difícil. Estive com redução de horário até sair da empresa antiga, e ainda que trabalhasse a uma hora de distância, no máximo às 17h ele estava a sair. Passar a sair uma hora mais tarde foi doloroso. No primeiro dia cheguei e já só estava ele e outra menina, e o meu coração de mãe partiu-se em mil pedacinhos. Questionei todas as decisões que tinha tomado, mas depressa concluí que se tivesse continuado onde estava, e terminada a amamentação, passaria a ir buscá-lo ainda mais tarde (nunca antes das 19h30), por isso vamos ter que nos adaptar. Todos. Tivemos choro de manhã, birras de cansaço ao final do dia, mas aos poucos a coisa vai estabilizando.
E falando em monstrinho, as coisas que esta criança aprende de dia para dia? Não vos vou contar grandes feitos, não direi que é um prodígio ou sequer avançado para a idade no que quer que seja. É um miúdo normal, cada vez menos bebé e mais menino, e eu saboreio cada pequena conquista. Começou a andar (e mais recentemente a correr) e agora o mundo é dele. É curioso, astuto, aprende rápido. É meigo e carinhoso, tira comida da boca dele para nos dar se pedirmos, faz miminho, sorri e dá abraços com fartura. Mas também tem mau feitio: aprendeu a birra e agora atira-se para trás quando é contrariado, chora, deita-se no chão. Não damos importância para que não veja isso como 'arma' para conseguir o que quer. Come bem, dorme bem (ultimamente nem tanto, ora são dentes, ora gastro, ora constipação, uma ramboia), não dá chatices. É um bom menino.
Começamos a preparação para o casamento e já estou exausta. Amanhã faço a primeira incursão no mundo dos vestidos de noiva, logo vos conto como correu, mas vou com expectativas baixinhas baixinhas. Já as quintas são toda uma outra epopeia. Só queríamos um espaço amplo, mesas de madeira corridas e cadeiras simples, já agora a preço de gente. Aparentemente é pedir demais, e ainda não vimos nada que fugisse ao clássico: mesas de vidro, poltronas, veludo, pérolas, cristais, véus a cair do tecto, dragões a cuspir fogo... esta última pode ser exagero mas vocês perceberam a ideia. Passamos dois dias a ver quintas e quase desisti de casar. Não há de ser nada.
Na correria da vida, o blog passou para 76352º plano. Adorava vir cá com mais frequência, faz-me falta escrever e ler-vos (ainda está por aí alguém?), mas o tempo voa, uma pessoa escreve posts mentalmente enquanto está no duche ou antes de adormecer, mas depois nunca os passa para o papel (salvo seja), outros blogs são lidos de fugida nas salas de espera de consultórios ou em tempos mortos - que são cada vez menos - passam-se dias, semanas, meses e pronto. A ver se consigo vir cá mais vezes.
Nunca fui de me queixar muito aqui do meu trabalho, ou pelo menos de entrar em grandes pormenores, por variadíssimos motivos. Fosse por receio de ser lida pelos olhos errados, por considerar falta de profissionalismo fazê-lo, por não gostar de cuspir no prato onde como, por questões de confidencialidade, às vezes até mesmo por preguiça.
A verdade é que gosto bastante do que faço, mas essa paixão foi-se desvanecendo por questões de fraca gestão. Por muito profissional, competente ou talentosa que uma pessoa seja, é facto que, tal como se deixarmos de regar uma planta ela morre, se não compensarmos devidamente uma pessoa, a chama vai-se. Vale para todos os campos da nossa vida, e nem sempre é dinheiro.
No meu caso, nunca pedi mais dinheiro, pedi hierarquia. Queria estar ao nível dos colegas que faziam o mesmo (ou menos) do que eu. Para terem uma pequena contextualização: há 6 anos que tenho funções de gestão de equipas. Equipas que me são hierarquicamente superiores. Estando numa organização multicultural, focada numa realidade em que as mulheres já partem em desvantagem e a posição na empresa é sobrevalorizada, fazer valer a minha vontade enquanto líder foi sempre mais complicado do que teria que ser.
Hierarquia. Ao longo dos anos, foi a única coisa que fui pedindo. Em troca dei cargos muito acima do que vinha no meu recibo do vencimento, executados com sucesso. Dei noites, fins de semana, viagens pelo mundo. Tempo e dedicação pessoal, engolir mais sapos do que o meu eu adolescente alguma vez aceitaria. Dei horas, dias, semanas, investidos em formação e aquisição de conhecimento, mais tarde usados para melhorar os processos e metodologias da empresa. Recebi palmadinhas no ombro, elogios, reconhecimento dos meus colegas e chefias, mais trabalho, cada vez mais desafiante. Mas não recebi o que pedia e considerava justo.
A vida é como é, quem não está bem muda-se e é tempo de perseguir outra oportunidade que (espero) será melhor para mim. E vou, claro, mas não deixo de sair com um amargo de boca. Não deixo de pensar que o meu emprego dos últimos 8 anos, do qual eu gostava e onde me sentia já parte da família, não tinha que deixar de o ser, se as coisas tivessem sido geridas de uma melhor forma. Saio entusiasmada pelo novo desafio que se avizinha e oportunidades que me vai proporcionar, mas saio também um pouco triste.
Consegui um novo emprego, mais perto de casa que me permitiria passar menos tempo em viagens e mais com o meu filho, mas que se traduz num decréscimo salarial considerável (não tanto, se considerar as viagens) e num salto para o desconhecido. Sei que isto de ter mais do que uma hipótese é um não-drama, mas em mim está a gerar um pequeno ataque de ansiedade. Ponham-se lá no meu lugar e digam-me: o que fariam?
Às compras, encontro uma colega de trabalho. Para quem não sabe, eu e o homem trabalhamos juntos cerca de 7 anos, portanto os colegas de trabalho conhecem os dois. Fomos então cumprimentar a colega, e levávamos o monstrinho connosco. De imediato, sorriu para ela.
- É tão simpático! Também não tinha a quem sair antipático.
Ao que eu respondo aquela graçola básica:
- Ora, podia ter saído ao pai.
Silêncio.
Cara séria.
Levantar de sobrancelha.
Ok, não foi a piada do ano - nem era para ser - mas caramba. Era a brincar. A BRINCAR.
Já me tinha esquecido deste sentido de humor... peculiar, chamemos-lhe asim, das pessoas com quem trabalho. Voltar vai ser tão difícil.
Ignorei o aviso que diz que duas toalhitas de papel sao suficientes para limpar as mãos e tirei três. Ah pois.
Não vou ao ginásio há três semanas. Ando permanentemente com a testa contraída. Adormeço assim que me encosto a qualquer coisa. Não me lembro do que é jantar antes das 22h (em dias bons...). Sinto-me constantemente preocupada. Comi bolo três vezes na semana passada.
Se isto não é motivo para ir para casa, vestir o pijama, e passar o resto do dia na cama a ver filmes e comer nutella às colheradas, então não sei o que será.
Hoje estive em três países diferentes...
Aqui há uns anos contaram-me de um colega de profissão que tinha deixado os computadores e se tinha dedicado à apanha da amêijoa. Aquilo foi motivo de gozo por toda a gente durante imenso tempo. Pobres inocentes.
Não raras vezes, dou por mim a pensar nesse fulano e em como ele foi esperto. Penso, mais vezes do que seria expectável, que gostava tanto de viver de outra coisa mais simples. Talvez não da apanha da amêijoa, que agora com o frio era gajo de ser incómodo. Mas ontem à noite, mesmo antes de adormecer, já com saudades do meu homem e nervosa pelo projecto que começo hoje, dei por mim a sentir uma pontinha de inveja da minha empregada doméstica.
"Vais fazer OUTRA formação?! Mas tu nunca paras? Queres saber tudo é??"
Sim, é mais ou menos isso.
Ah, eu trabalho 80h por semana, e há pessoas que estão de férias da páscoa, é isso? É assim que vai ser? E irem pró caralhinho, não?
Que, numa base diária, se lembra de me pedir coisas que não lembram ao diabo. E a quem não posso dizer que não, e quem pode não diz. Já há muito muito tempo que não me lembrava de ter acessos de raiva como agora tenho a cada 10 minutos. Achei que devia partilhar.
Longe de mim querer pressionar ou assim, mas não espero menos do que isto:
(E sim, o mocinho de baixo marchava. Sim. Gostos não se discutem pá, deslarguem-me!)
Eu procrastino.
Eu procrastino.
Eu procrastino.
Eu procrastino.
Eu procrastino.
Eu procrastino.
Eu vou-me foder com tanta procrastinação porque no meio disto tudo ninguém faz o trabalho por mim e não há milagres.
É absurda a quantidade de vezes que penso: quem me dera que o mundo parasse um bocadinho para toda a gente menos para mim, só para eu ter tempo de fazer algumas coisas que tenho pendentes sem me incomodarem. Definitivamente, 24h não me chegam.
E estou aqui.
Isto promete.
... mas hoje começo a contagem decrescente para regressar, ainda que temporariamente, a casa. 5 dias. Cinco, só mais cinco, e começa a viagem de regresso*.
*sim, começa. Que isto não é coisa para se fazer num dia só...