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Não tenho coragem de dizer isto a ninguém, porque não quero juízos de valor, porque não quero que me enumerem as coisas boas que a vida tem, porque talvez verbalizar este receio o faça ser mais real. Mas posso dizer aqui, que ninguém nos ouve, baixinho. Sei que não contam a ninguém. Tenho medo de ter uma depressão pós parto.

 

 

Sei que a vida é bela. Sei que tenho muita sorte, que correu tudo bem mesmo quando podia ter corrido mal. Que tenho um bebé espectacular, saudável, calminho e lindo nos braços. Que tenho ao meu lado um homem que não é perfeito mas anda lá perto. Que estou a recuperar bem. Que tenho família, amigos. Que tenho saúde. Que a vida me corre bem. Então porque me sinto assim?

 

 

Quando, ainda no hospital, desabei a chorar na segunda noite, culpei as hormonas. Conversei com os enfermeiros. Culpei o baby blues, as dores, as drogas, os mamilos em sangue, o cansaço, o excesso de visitas. As coisas melhoraram, mas não voltaram ao normal - será que algum dia voltam?

 

 

Estou a ter problemas em ajustar-me. Há uma parte de mim que paralisou, sinto que há momentos em que não sou uma pessoa, e nunca estou plenamente feliz, mesmo sem entender porquê. Não consigo deixá-lo sozinho mais do que uns minutos sem entrar em stress. Não consigo não acordar quando ele acorda, ainda que o homem se ofereça para tratar de tudo, não consigo. Não consigo descansar plenamente. Não consigo fazer nada sem a sensação de tempo contado e limitado ou o peso da culpa por não estar com o bebé. Sei que é normal, ele tem pouco mais de duas semanas, sei que é suposto eu viver para ele nestes primeiros tempos, mas tenho medo de me afundar nesta pessoa que estou a ser.

 

 

Os números não enganam, a depressão pós parto afecta 10 a 20% das mulheres. Normalmente é diagnosticada quando o blues inicial se prolonga para além do primeiro mês. Mas por outro lado este estado depressivo inicial é "suposto" durar duas semanas, dizem os livros, não mais do que isso. Então porque me sinto assim?

 

 

Tenho histórico depressivo na minha vida. Há alguns anos deixei-me afundar até um ponto ao qual nunca mais quero voltar. Fiz terapia, e retorno sempre que sinto que posso estar a pisar a linha que me separa do saudável. Não tenho vergonha de admitir que precisei - e ainda preciso, às vezes - de ajuda, e que a procuro. Mais do que isso, tenho orgulho em saber assumir essa necessidade e levantar a mão. Ainda assim, não consigo compreender este sentimento. Fico triste e enraivecida por me sentir desta forma numa fase que é tudo aquilo com que sempre sonhei. Revolta-me esta tristeza que baixou em mim num momento que deveria ser tão feliz. E tenho medo do que virá por aí. Tenho muito medo.

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publicado às 18:47


14 comentários

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De nervosomiudinho.blogs.sapo.pt a 22.08.2017 às 19:29

❤️
A privação de sono e a natureza permanente do cuidar têm momentos difíceis. Dá vontade de meter uma tarde de folga mas é impossível conseguir ausentar-me dele. Ele achava que eu adivinhava quando ele queria mamar, por vezes estou noutra divisão a dormir e mal faz um barulho pareço uma mola e vou ter com ele. Se estiver a fazer o mínimo choraminga ainda que seja tranquilo não consigo dormir. Esquece o "normal"e tenta perceber o que precisas antes de instalar mesmo a depressão, se um passeio, um fim de semana fora os três, se um café com uma amiga por uma horita ou duas. 
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De Mia a 25.08.2017 às 21:54

Hoje já estou melhor. Acho que começo a ter dias melhores, tive que ceder e fazer o esforço por desligar nem que seja alguns momentos. Acreditar que o pai também consegue cuidar dele (óbvio que consegue, que raio de ideia...) e delegar um pouco. Devagar, a coisa vai.
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De nada acontece por acaso a 22.08.2017 às 23:18

Tudo isso que sentes é perfeitamente normal. Felizmente nas duas vezes que fui mãe não sofri de depressão pós parto, mas lembro-me de quão difíceis foram os primeiros tempos em casa com os bebés. Não tens mesmo de ter vergonha de pedir ajuda se assim o entenderes, acho aliás que demonstra coragem ao reconheceres que precisas. Um dia de cada vez, o teu instinto de mãe acima de tudo, borrifa-te nos outros de nas suas opiniões sem fim, e vais ver a coisa vai-se levando. Qualquer coisa e estou (estamos) cá para te ler e comentar. Beijinhos 
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De Mia a 25.08.2017 às 21:55

Não achei que comigo fosse ser assim - tenho sempre a mania que sou diferente e depois caio em todos os clichés. Achei que ia estar radiante o tempo todo, e afinal não. Obrigada <3
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De Mula a 23.08.2017 às 00:53

É um cocktail perigoso de hormonas que se vai prolongar durante mais algum tempo.

 
Acho que teres consciência desse medo é meio caminho andado para a solução. Só não podes perder essa noção porque muitas mulheres têm tanto medo de admitir, que às vezes sofrem mais da pressão que sentem em ser a mãe perfeita que não pode sofrer e por isso não admitem que não estão bem, do que pela maternidade em si.


Força, e se precisares de ajuda tens de a pedir, porque como vês pelas estatísticas estás longe de estar sozinha e não é vergonha nenhuma... A tua estabilidade é importante, é importante para ti, para o bebé e até para o teu companheiro. Sabes que a depressão também afecta muitos homens que se recusam a admitir? os efeitos podem ser muito nefastos e nesta altura têm de se apoiar um ao outro. Falem sem medos, abre o teu coração, porque quanto mais falares sobre isso, mais exorcizas os teus medos, tornas os medos reais e passas a vê-los de forma diferente e é mais fácil de superar...


E se tens noção de que te tornas obsessiva com o bebé tenta contrariar-te, deixa o teu companheiro participar, nem que supervisiones, mas tira o peso da maternidade das costas - fala a gaja que nunca pariu nesta vida... - ele tem e deve fazer parte, ele veio de dentro de ti, mas só é 50% teu...


E... muita força! Image
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De Mia a 25.08.2017 às 21:58

É mesmo. Ele diz que o meu "eu" actual é muito parecido com o meu "eu" com TPM. Eu já nem me lembro, já lá vai tanto tempo...!

Não é tanto medo de admitir ou pedir ajuda, é aquela duvida sobre se preciso de ajuda ou não. Se sentir que preciso, faço-o de imediato, já conheço bem os sinais e sei que não os posso ignorar, mas também ainda não acho que esteja nesse ponto, vamos andando e vamos vendo.

beijinho
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De Ana Gomes a 23.08.2017 às 08:37

Eu passei as noites no hospital a chorar... chorava a noite toda... achei que era forte e conseguia vencer aquilo sozinha, porque tal como tu eu tinha receio de juizos de valor. Cheguei a um ponto de ruptura que ja nao me deixava fazer nada ou pensar racionalmente, decidi recorrer a ajuda médica. Foi o melhor que fiz andei medicada sim, mas ao fim de um ano e meio fiz desmame... até hoje não tive recaídas aprendi a controlar o meu stress e prever os meus estados de depressão. 
Não tens de ter medo, pede ajuda, fala com quem te acompanha, familia, amigos, medicos... é normal não nos conseguirmos ajustar tens é de aproveitar esse bebe fofo que tens.
Felicidades e muita força.
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De Mia a 25.08.2017 às 22:00

O tempo no hospital foi complicado, por um lado aquela alegria imensa, por outro medo e preocupações... os enfermeiros foram impecáveis comigo e ajudaram-me imenso.

Não é tanto medo de admitir ou pedir ajuda, é aquela duvida sobre se preciso de ajuda ou não. Se sentir que preciso, faço-o de imediato, já conheço bem os sinais e sei que não os posso ignorar, mas também ainda não acho que esteja nesse ponto, vamos andando e vamos vendo.

beijinhos e obrigada
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De David Marinho a 23.08.2017 às 12:21

Está tudo a correr bem. É isso que tens de pôr na cabeça. Tudo corre como planeado, e tudo vai acabar bem.
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De Mia a 25.08.2017 às 22:02

Obrigada :)
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De Dama a 23.08.2017 às 23:10

Sei bem o que sentes.
Tão bem mia.
Não tenhas medo. Verbaliza. Fala. Pede ajuda. O que sentes não é de todo estranho ou único.
Não devia de ser assim. Não agora em que devíamos de estar nas nuvens.
Beijinho
A dama de espadas q
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De Mia a 25.08.2017 às 22:03

Não imaginas como sabe bem ler essas palavras. Beijinho <3
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De VeraPinto a 28.08.2017 às 15:58

Não tenho histórico depressivo, mas tenho um igual medo terrível da depressão pós-parto. Ter reacções à minha ideia de mãe, que é partilhar tudo com o pai, faz-me ter medo de como vou reagir à pressão dos outros. 
Sou completamente despreocupada, mas creio que isso vai ser ainda pior do que achar que sou uma super mãe. 



Acho que o primeiro passo já deste, saber que é uma possibilidade, e que já estás atenta. Não estás sozinha, é uma coisa normal, comum. Usa o teu marido quase perfeito para te ajudar. Sei que o vai fazer melhor do que estás à espera. :)




E depois, quando tiveres mais tempo, falas-me do excesso de visitas no hospital certo?


beijo e força. Gosto imenso de ti, e estou felicíssima por ti :)
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De Mia a 29.08.2017 às 16:36

Nada nos prepara para ser mães. Sei que é cliché, mas acho mesmo que todos os livros que li, todos os blogs de maternidade que escarafunchei, todo o curso de preparação para a parentalidade não foi nem remotamente suficiente. De repente tens um filho nos braços e não há rede de segurança e isso é assustador. Acho que começo a estar melhor, já não choro há cinco dias (pareço uma alcoólica, pergunto-me quando terei direito à medalha) e começo a lidar melhor com a privação de sono. Um dia de cada vez, li por aí num blog de maternidade, e é mesmo isso. Há de correr tudo bem comigo, e contigo também quando for a tua vez, tenho a certeza disso.

Tenho tanto para contar, visitas incluídas, vou definitivamente escrever sobre isso em breve!

Também gosto muito de ti, obrigada por estares por aí. Beijinho

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