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To boob or not to boob

por Mia, em 30.09.17

Amamento o pequeno monstrinho exclusivo. Excepção feita para uma vez que lhe deram suplemento, ainda no hospital, tem sido sempre assim. E é tudo aquilo que imaginei que seria: nada de especial.

 

boob-now-baby-meme.jpg

Como assim nada de especial? Amamentar é um momento único, um vínculo entre mãe e filho... BA-LE-LAS. Não sinto que a minha relação com o meu filho seja mais especial porque lhe dou mama. É que nem um pouco.

 

Mas comecemos do início.

 

 

Depois de ele nascer, quando me levaram para o recobro, veio uma enfermeira por o menino à mama. Não foi difícil, não foi mau, foi... estranho. Começou por ser estranho vir uma pessoa e, sem perguntar, informar-me que ia dar de mamar ao miúdo. Foi estranho quando ela me pegou no mamilo e o enfiou na boca do puto para fazer a pega em condições. Foi estranha a sensação de estar a alimentar um bebé. Mas tudo bem. O pior estaria para vir.

 

 

No início, o bebé tem que comer de 2 em 2 ou 3 em 3 horas. Sem desculpas: mesmo que ele esteja a dormir, acorda-se. E isto é extenuante. Eu não sabia nada. Logo eu, que me tento informar sobre tudo e mais um par de botas, tinha ali uma lacuna tão importante. Não sei se assumi que a coisa se daria naturalmente, ou se simplesmente não pensei muito sobre o assunto. Não sabia nada sobre amamentação. E de repente tinha mil perguntas. Em que posição haveria de amamentar? Como saber se ele estava a mamar bem? Como saber se era suficiente? Tenho mesmo que o acordar? E se demorar 3h e 10 minutos entre mamadas, mato a criança?

 

 

Dramático, vocês sabem lá.

 

 

Parece exagero, mas juntem a isto um choque hormonal, as dores do pós-parto e emoções à flor da pele, e vão ver que dá um cocktail explosivo.

Os enfermeiros, mais uma vez, foram impecáveis comigo. Tive a sorte de me calhar na rifa um bebé que já nasceu a saber mamar, e uma equipa médica com paciência infinita. Ajudaram-me a encontrar a melhor posição para mim. Ensinaram-me a ver se ele estava a mamar em condições pelo formato da boca e barulhos que ele fazia. Explicaram-me que, estando a comer em condições, o bebé faria um xixi depois da refeição. E não, 10 minutos a mais não matam a criança (mas convém não abusar).

 

 

Mas a coisa não estava fácil. Amamentar dói. Muito. Quem vos disser o contrário está a mentir. Se na primeira noite já tinha os mamilos doridos, na segunda a coisa tinha piorado MUITO e já tinha feridas. Estava a por lanolina entre mamadas e discos de amamentação, mas não via progressos. Ao questionar o que fazer, a resposta era sempre a mesma: é normal, melhora depois de o mamilo ganhar calo. Ganhar. Calo. WTF.

 

 

A segunda noite não foi fácil, falei-vos disso aqui. Entre a primeira e a segunda noite, o miúdo não urinava. Lembram-se de ter dito acima que "estando a comer em condições, o bebé faria um xixi depois da refeição"? Pois. Soaram imediatamente todos os alarmes e entrei em pânico. Que eu ia matar a criança à fome. Que espécie de mãe sou eu? Sugeriram-me dar-lhe suplemento depois da mama e ver se ele queria. Mamou, e depois bebeu um bocadinho de suplemento, quase nada. Não quis mais. Passou a noite agitado e com cólicas.

No dia seguinte, urinava normalmente. Por indicação dos enfermeiros, não demos mais suplemento, para ver como é que ele reagia. Mamava, fazia xixi, dormia. Parecia estar tudo bem. Já eu, estava cada vez pior. O homem dizia que sabia quando ele tinha começado a mamar porque, invariavelmente, eu gemia. Acho que ele não reparava que, além disso, os olhos se me enchiam de água.

 

 

Na terceira noite estava exausta, abatida e com os mamilos em sangue. Sugeriram-me "saltar" a primeira mamada da noite e descansar, deixando que lhe dessem antes suplemento. Não quis. É engraçado como as coisas são: nunca fiz questão de amamentar, nunca fui contra dar leite artificial, nem nunca tive vocação para mártir. Mas naquele momento só me vinham à cabeça as cólicas que o suplemento lhe tinha causado na noite anterior. Não queria que o meu filho sofresse, mesmo que me estivesse a custar horrores, e por isso continuei.

 

 

Fomos para casa, com a recomendação de que não me preocupasse quando se desse a subida do leite. Que ficaria com o peito inchado, teria dores, poderia até ter febre, mas era tuo normal. Nunca aconteceu. Até hoje, não sei o que isso é. Não dei pela subida do leite - se calhar porque já tinha tantas dores que camuflaram essas?? - e só me voltei a lembrar disso quando, semanas depois, alguém me perguntou se tinha custado muito.

 

 

Aos cinco dias pós-parto, fomos ao centro de saúde fazer o teste do pezinho. Continuava com os mamilos em ferida, dores intensas, e pior: por causa disso, nesse dia o monstrinho tinha bolçado leite misturado com sangue e eu estava, claro, em pânico. Procurei a enfermeira especialista em amamentação e expus as minhas dúvidas. Recomendou-me que trocasse o creme de lanolina que tinha pelo da medela. Sugeriu-me que comprasse as conchas, para evitar que os mamilos tocassem no sutiã ou discos e assim pudessem sarar. Aconselhou-me também os pensos de hidrogel, para curar as feridas. Também sugeriu que apanhasse sol nas mamas, mas a sério, quem tem tempo para ir fazer topless para o sol quando tem um recém nascido em casa?! Saí do centro e fui comprar tudo. E salvou-me a vida, principalmente os pensos de hidrogel. Em menos de uma semana, deixei de ter feridas, e, efectivamente, ganhei calo. As conchas também foram bastante úteis, ainda que sejam tremendamente desconfortáveis. No início usava sempre durante o dia, agora uso apenas quando estou mais dorida.

 

 

Entretanto, e porque amamentar de 3 em 3 horas durante a noite me estava a matar, compramos a bomba e comecei a tirar leite. Tiro um biberão para dar à noite e assim aquela mamada das 3h ou 4h da manhã não custa tanto - é muito mais rápido dar biberão. Além disso, desta forma o pai também pode alimentar o bebé, permitindo-me descansar um bocado. Tirar o leite também se revelou bastante útil quando temos algum compromisso que colide com a hora da mama. É muito mais simples e rápido dar o biberão.

Juntamente com a bomba, compramos também um biberão "amigo da amamentação", que obriga o bebé a esforçar-se para mamar, mas também já experimentamos outros e funcionou de igual modo.

 

 

Então e agora?

Agora as coisas estão mais fáceis, claro. Já não doí, já não tenho feridas, e já não custa tanto - o que faz com que às vezes tenha dúvidas sobre se estou a fazer bem as coisas. Mas o monstrinho cresce a olhos vistos, faz xixi como gente grande, e também não está mal ao nível do cocó, portanto acho que está tudo bem.

Mas se pudesse, parava já de amamentar.

 

 

Já nem é a questão de ser dona das minhas próprias mamas: quando uma mãe amamenta, não há lugar para pudores. É engraçado como as coisas se alteram: essa questão nem surge na nossa cabeça. Se a criança está a chorar e tem fome, a mãe saca da mama e dá-lhe. Eu, pessoalmente, não me sinto à vontade para o fazer em público, nem nunca tive até ao momento a necessidade de o fazer. Procuro um "cantinho da amamentação" ou se estiver na casa de outra pessoa peço para ir para um quarto. Mas se estou num sítio qualquer a dar de mamar ao meu filho e entra alguém... caguei. Incomoda-me que invadam a nossa privacidade, mas não tenho qualquer tipo de pudor por estar de mamas ao léu. E isto é verdadeiramente surpreendente, em mim - sou pessoa muito reservada no que toca às minhas maminhas.

 

 

Mas dizia eu, não é a questão do pudor, é mesmo porque não é prático. Amamentar é demorado. É desconfortável para as costas. Exige toda uma logística que não é simples: procura um canto mais recatado; um sítio onde sentar, preferencialmente com suporte para braços; uma almofada para elevar o puto (nem me façam falar sobre a fraca qualidade das almofadas que as pessoas, no geral, possuem); protege a almofada com uma fralda de pano; protege a roupa com uma fralda de pano. Ah sim, e a roupa? Vamos falar da roupa? Esquece camisolas fechadas. Vestidos nem pensar. Ou vais tirar o vestido no meio da rua se tiveres que sacar da mama? Pois. Não era mil vezes mais simples levar o leite em pó previamente doseado, juntar água e dar o biberão em 5 minutos? Era.

 

 

Mas não é tão bom para o bebé.

 

 

Por isso continuamos, claro. E continuaremos a amamentar em exclusivo até aos seis meses, salvo impedimento não planeado. Ora bolas.

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6 comentários

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De Diana a 04.10.2017 às 15:05

Tinha mesmo que comentar este post, porque foi o melhor que li nos últimos anos sobre amamentação.
Ainda domingo dizia a minha sogra que não, não era nada bom dar de mamar. (provavelmente só não passo a ser a pior nora do mundo porque ela não têm outra, e terá que me aturar para toda a vida....).
Mas essa é que é a verdade. Custou imenso, fez-me chorar imenso e até hoje não vejo nenhum vínculo especial que tenha estabelecido com o meu piratinha por causa de ter dado de mamar.


Dei de mamar por duas razões: tinha leite e estava consciente de que é o alimento mais completo para um bebé. Dizem que o leite materno faz com que eles fiquem imunes e que sejam mais resistentes a contágios e doenças. Poderá ser coincidência ou não, mas a verdade é que não tenho razões de queixa. Já está no 3.º ano do infantário e até agora apanhou apenas escarlatina que em 5 dias foi curada. Constipações são curadas com 5 nebulizações de soro fisiológico e está feito. Penso que passei-lhe as defesas.


Quanto ao resto, ligações, contacto com o olhar...blá, blá, blá..... Não é por estar com a boca atracada ao nosso mamilo que o contacto é substancialmente  maior do que estar no nosso colo e ter a boca no biberão. O o olhar, minhas amigas?! O olhar continua lá. Nós a olhar embebecidas para eles, e eles para nós, porque a posição que t~em no nosso colo proporciona esse olhar.


Posso falar porque apesar de ter custado muito dei de mamar em exclusivo até aos seis meses e depois consegui dar de mamar duas vezes por dia até ele ter 1 ano. Nessa altura parei.


Queria Deus que se um dia tiver outro bebé, possa passar por tudo novamente. Será um sacrifício que faço em prol do bem estar dele. mas direi sempre que é um sacrifício, porque custou muito, e só de pensar custa.


Obrigada por partilhares a experiência, e Deus permita que muitas mamãs possam ler e não se acharem muito egoístas quando estão a dar de mamar e pensam no que aquilo custa.


Felicidades 


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De Mia a 16.10.2017 às 10:38

Primeiro: obrigada!
É exactamente isso que eu penso, faço-o porque é comprovadamente melhor para ele. Ponto. Tenciono dar em exclusivo até aos seis meses, e depois logo se vê. Dependendo de como correr a introdução das sopas e papas, o estado geral de saúde dele, a opinião da pediatra, aí logo se vê se acaba a mama ou não. E tenho a certeza que o meu filho gostará igual de mim, com ou sem mama!
Beijinho

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