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Uma espécie de intervenção

por Mia, em 31.01.19

Desde que me lembro de existir, que sempre foi "aceitável" que as pessoas presentes na minha vida comentassem o meu corpo.

 

 

Até à adolescência era normal ouvir críticas por ser magra. Com o início da puberdade, comentários às minhas novas formas eram o pão nosso de cada dia, de tal forma que, à minha entrada na universidade, com 1,63m e 50kg, achava que era gordíssima e tinha toda uma panóplia de complexos. No início da minha vida adulta tive uma depressão e um esgotamento e vi na comida um refúgio, que me custou uns 20kg a mais. Sim, vinte. Nessa altura, comentários sobre o meu corpo eram um fartote. Não importa o que estás a passar, se está a ser complicado, se te vão magoar. Toda a gente tem uma opinião sobre o teu aspecto, e não se coíbem de ta dar.

 

 

Por outro lado, não raras vezes, ao tentar comer melhor fui brindada com o clássico "tens a mania das dietas". Também a prática de exercício físico nunca foi convenientemente incentivada durante o meu crescimento, e ainda hoje quando comento coisas como: "levantei-me às 6h para ir ao ginásio antes de ir trabalhar", levo com críticas (não tens mais nada para fazer? credo!). No ano em que decidi tomar as rédeas do meu corpo e perdi 15kg, foi como se tivesse aberto a caixa de pandora. De repente, até pessoas com quem não falava assim tanto vinham ter comigo para saber o que fiz e me informar de quão mal eu estava antes. Adorável.

 

 

Olhando para trás com olhos de mulher adulta, consigo hoje perceber a confusão que isto cria na mente impressionável de uma criança/adolescente, como não? 

 

 

Arrisco dizer que todas as mulheres - ou a esmagadora maioria - em algum momento já se sentiram descontentes com o seu aspecto físico como resultado de um comentário externo. Todas nós já o sofremos na pele. Então porque é que continuamos a perpetuar esta cultura em que comentários ao nosso corpo são normais? Porque é que são tantas vezes os próprios pais a referir-se aos seus filhos como tão bonitos, ou pior, os MAIS bonitos, como se isso fosse controlável (somos como nascemos, lamento), como se fosse uma competição, como se isso fosse importante, como se isso de alguma forma definisse os nossos filhos. 

 

 

Não entendo como é que vivemos estas situações, e depois guiamos os nossos filhos no mesmo caminho. Temos obrigação de ser melhores. De aprender com os nossos erros e com os erros que cometeram connosco. De os preparar para a vida, sim, de fazer deles a melhor versão de si próprios, absolutamente. Mas também de relativizar e dar valor ao que realmente importa.

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