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Está aí a fazer um ano que uma das minhas melhores amigas perdeu o namorado. Ele era um rapaz jovem e promissor, eles tinham uma relação fresquinha e ainda na fase amor-cor-de-rosa-tanto-mel-que-mete-nojo, era um dia normal, igual a tantos outros. Estiveram juntos, despediram-se normalmente - iam estar juntos amanhã, não era preciso grandes despedidas - e depois um terrível acidente aconteceu. Sabia-se que havia vítimas, mas ele não era uma delas, não podia ser. Havia certamente uma explicação para tudo: para o facto de ele não atender o telemóvel, de não dar notícias, de ninguém saber dele. Ele não era, não podia ser um dos feridos. As notícias chegavam-nos pela comunicação social, e diziam já ter notificado as famílias das vítimas, e a dele continuava sem saber de nada, portanto não era ele. Não era. Eu, a 3000km de distancia, passei horas ao telefone com ela. Disse-lhe vezes sem conta que ia ficar tudo bem. Ela teimava em não acreditar. A dada altura, perguntei-lhe:
- eu alguma vez te menti?
- não.
- acreditas em mim?
- sim.
- então acredita no que eu te digo, vai ficar tudo bem.
Não ficou.
Ele morreu, a comunicação social estava errada, e havia de facto um motivo para ele não dar notícias, e era o pior possível.
Ela não se lembra disto. Nos momentos que seguiram aquele turbilhão de emoções, muita coisa se apagou, e para ela aquele momento e os dias, semanas, meses seguintes são uma névoa. Mas eu, eu nunca me esquecerei. Nunca me sairá da cabeça o dia em que fiz uma promessa falsa, em que jurei que ia ficar tudo bem, sem saber se ia. O dia em que criei uma ilusão vã numa pessoa, para ser depois desfeita em mil pedaços.
Hoje, uma outra amiga está a passar um momento difícil, precisa de apoio e precisa de alguém que lhe diga que "vai ficar tudo bem". E eu simplesmente não consigo fazê-lo.